DIÁRIO DE BORDO - FANTASMAS DE OURO PRETO
A chegada a Ouro Preto foi uma das mais emocionantes experiências dedilhadas pela nossa sensibilidade.
Reviver o clima do Brasil-colônia evoca um ufanismo jamais suposto.
Imagens de triunfo e esplendor invadem a alma em meio a assaltos de dor, sofrimento e opressão que certamente marcaram o destino de muitos irmãos mineiros.
O aroma da história transportado pelo vento arrevece nosso senso de urgência e imediatismo através do contraste das percepções motivadas pela força desse ambiente inspirador.
Nas ruas de Chico Rei, a modernidade não trafega. A história espreguiça em cada esquina, chamando, no presente, a atenção do futuro.
Na Igreja do Pilar, a arte se revela em majestosa harmonia. Olhos atentos dos viajantes percebem por trás de cada detalhe, fragmentos de vida e sonhos que se eternizam entre o ouro reluzente da arte que adorna as sacras paredes.
No “museu dos Inconfidentes”, novamente fomos remetidos à causa dos mártires, como se o episódio tivesse transcorrido no dia anterior.
Finalmente, no “Teatro Municipal Casa da Ópera” - o mais antigo da América Latina - nossas mentes se renderam ao místico convite dos fantasmas de Ouro Preto, que se puseram a nos confidenciar relatos velados de seus feitos.
Nunca imaginei poder sentir na fria tarde daqueles espaços, o sussurrar impoluto de vozes heróicas que ecoavam cantos de liberdade, os quais preenchiam todo o teatro, contagiando-nos e inspirando discursos impregnados pelo magnetismo ideológico que moveram lutas sangrentas e defesas eloqüentes capitaneadas pela rubusteza intelectual de arautos da nossa literatura, registrando em páginas memoráveis, o brilhantismo que discerne a identidade brasileira no campo das manifestações cívicas e artísticas. Também nós tivemos os nossos “iluministas” que brilharam singularmente nos palcos de Ouro Preto.
Agradecemos a hospitalidade dos nobilíssimos espíritos que tão distintivamente nos receberam numa tarde fria em Ouro Preta, o ilustre alferes Joaquim José da Silva Xavier, os notáveis poetas Tomas Antonio Gonzaga e Cláudio Manuel da Costa, o dono de mina Inácio de Alvarenga, o padre Rolim, entre outros que animaram nossa odisséia pelas ladeiras imponentes da bela Ouro Preto.