Plataforma 28

Impaciente, o jovem ao meu lado não parava com o movimento frenético de sua perna, fuçando com avidez sua mala de verde de couro falso e desatando o nó que fizera no fone de ouvido. Fazia tanta coisa que alguns diriam que não fazia no final das contas nada. Sujo e com aspecto de marginal, tirou a passagem do bolso, leu com calma e em silêncio e virou-se com os olhos saltando fogo em minha direção. Minha têmporas arderem e aguardei a sentença, até porque vivo com medo de tudo. Disse com uma voz que se tornou onipresente em meio aos ruídos do terminal rodoviário " Eu sou você, e esta é sua passagem, olhe, veja!" Peguei o papel amassado com as mãos trêmulas, e se tivesse tempo tiraria da carteira minha passagem para triunfar sobre o equivoco do pretensioso jovem . Ah , se eu tivesse tempo!