(Memoriais de Sofia/Zocha)





Caminhava pela varanda do tempo, no meio fio onde o trapézio balouçava a pedra.
Enquanto Zocha descascava laranjas de umbigo soava a Bizantina a novena das sete. No cristal da noite começava o céu a parir-se. Um odor de rosas inundava o coral da madrugada mesmo no buraco negro. Entre  a agonia da casa vazia ela escutava o rumor do regato e a porta abrir-se. Era o chinês que morava no vaso de cerâmica na sala de jantar que a chamava  para os mistérios  do outro lado da ponte. Sem fazer ruído, pé ante pé, lá ia ela, do jeito que tinha ido dormir, ele estendia-lhe a mão, ela sentia sua quentura, entrava dentro do vaso com ele  entre as ramagens de dentro ,viajando desde fora ... Embaixo as águas corriam, havia um murmúrio de  lagartos e de pedras  e em qualquer lugar escondia-se a verdade. Um pé de vento se erguia a esparramar as grimpas. Quem poderia entender que ali na aparente escuridão abria-se um clarão só compreensível à pedras e lagartos?. Ele sentava-se sobre um caixote em qualquer  lugar e ajudava-a a ler  as cartas de partilha . Heráclito havia acendido o mundo e faiscavam os  corpos nas grimpas, sob o pelego da escritura a pedra guardava o lagarto com sua quentura enquanto respingava o tempo sob os cabelos do pó...