Pois é: Na indecisão, optei pelos dois, ou pelas duas ... Cidades. Morando na divisa, tenho um pé em Cabedelo, outro em João pessoa.
        O meu caso com Cabedelo é antigo. Cresci apaixonada por Cabedelo. Aliás crescemos juntas. A única diferença é que ela continuou a mesma, enquanto eu envelheci, ou melhor, amadureci. Sempre ia lá, aquele lugar me fascinava, me fascina. Seu ar boêmio me encanta. Não sei se te amo por tuas praias de areias alvas e finas, por teus coqueirais de cocos verdes e amarelos, anões ou gigantes, se pelo teu rio Sanhaúa que deságua no teu mar, ou pelas tuas cajaranas, sempre tão doradas, tão perfumadas, escondendo nos seus espinhos um perfume forte, um sabor agressivo. Coma uma cajarana, enfie seus dentes nos espinhos e descobrirás o sabor de uma fruta exótica que existe em abundância em Cabedelo. Será que minha paixão vem das flores de escama alvas, ou simplesmente porque foi ali que iniciei meu poetar. Era inspiração demais para me contagiar. E cá estou eu a cantar tuas belezas.
          Ao chegar lá, aventure-se na estradinha à beira-mar. Aqui e acolá uma areia fofa vai te fazer dançar, nada que os nativos não consigam te ajudar. Vais encontrar arvores no meio da estrada. Um pequeno desvio, e tudo bem. Vá devagar...Nada de pressa, de querer chegar...Esse lugar é de parar carro e coração. De ficar boquiaberto, de babar. Aproveite o momento, ele não vai voltar. Sinta o cheiro de maresia nas tuas narinas entrar. O mar estará ali de ladinho, mansinho...mansinho, de aguas mornas e transparentes. Um apelo ao banho. Essa é Praia Formosa. Ao longe, um farol orienta os navios que entram para o porto.
         Um pouco adiante, lá está o Forte de Santa Catarina com seus canhões mudos, estáticos, sem vida, agora só servindo para aquela foto do turista. Mas o forte ainda tem vida. É palco de apresentações culturais. São danças folclóricas, peças teatrais e até orquestras. Adiante um pouco...Não se tolha com as muralhas do forte. Sente-se no quebra-mar, recolha-se, seja por um momento o farol dos navios, ou até mesmo seu próprio farol.
        Ali juntinho, o porto. Porto encanta. Há um que de mistério, um que de malícia, um que de devassidão que instiga nossa imaginação. Aporte no porto. Aporte por lá. Viaje com eles mar afora. Perca-se do mar ou no mar. Liberte-se. Tua imaginação é fértil, basta adubá-la. Dê-lhes asas e ela te levará ao infinito ou no finito. No porto, é um chegar e sair, um entrar, um partir, numa mistura de paisagens e emoções.
       Saindo do porto, temos a rua das mulheres perdidas ou achadas pelos marinheiros, mulheres da vida, da noite, do amor por um dia, talvez nem isso. A cada navio que aporta, um novo amor que chega... E vão e vêm como a maré que desce e sobe, sobe e desce. O casario é antigo e assobradado. As mulheres coloridas e de riso frouxo são um convite à orgia.
        No final da rua sem saída, o prêmio. O Bar do Poeta sem Pernas. Do terraço, sob a latada de sapé, assistimos o por do sol que mergulha sanguinolento no rio-mar. Agora é um navio que sai, um apito de despedida, triste o vai levando a outras plagas.
        Certamente vai levando saudades do paraiso que é Cabedelo.