Atados

Não tivemos coragem ou hybris ou sei lá o quê pra tentarmos. Ou tivemos prudência; ou a impudência foi pouca.

O que não aconteceu sempre parece melhor, mais atraente que a realidade. Desejamos na medida em que não podemos ter. Fôssemos vários, o desejo seria nada. Quando nos tivemos, contivemo-nos.

Preferimos Apolo e suas casas simétricas e o dia e o direito e a razão a Dionísio, que deu até uns gracejos; mas disso não passou.

Nunca estivemos sós. Não pareço o que sou, porque sou também alguma coisa que não é lá muito o que pensam que sou.

Não sou o seu passado: ele é muito mais rico. Você me misturou a suas lembranças e sua nostalgia é por tudo que foi e não por mim. Não soframos tanto – a não ser que queiramos muito.

Ulisses não voltou só por Penélope. Sou uma imagem do passado, que você sente pela distância, pela impossibilidade, pela frustração do desejo de repetir. Você me ressente sobretudo com a imaginação, que invade aquilo que passou e o transforma: a pintura da paisagem apartada.

Não é capaz o sol de brilhar em toda parte ao mesmo tempo. Os textos foram o início, sejam portanto o fim. O fim do que não levaremos adiante.