DÁ-ME TEU COLO, MEU AMIGO!
Sempre que busco a poesia para te traduzir, meu amigo, acho minúscula a inspiração que me guia para alcançar a grandeza de tua essência, sinto-me pequena para desenhar a delicadeza de teu generoso coração. E, se conheço tão particularmente a tua voz, invento e recrio tua imagem com as asas de minha fantasia, transformando-a em um doce camaleão capaz de travestir-se conforme o passeio de meus pensamentos.
Às vezes, percebo-te ao fundo de meu espelho, olhando-me com carinho, sorriso brejeiro e sinto que a tristeza devagar se afasta para dar-te espaço. Vem! Aproxima-te e penteia com afeto meus cabelos lisos como se fosse onda e brisa beijando a areia branca. Sou praia deserta, és mar sem fim. Beija o branco que em meus cabelos se anuncia e torna mais leve as marcas de minhas lidas, algumas tão cansativas...
Leva-me, entre teus braços, para passear sobre a relva de teu quintal, descansar à sombra das árvores que plantaste, quero ouvir o canto dos pássaros que te visitam, beber água fresca do poço, molhar-me na chuva benfazeja que refresca o verão e alimenta tuas flores.
Empresta-me, uma vez mais, teus ouvidos para escutar as confissões de minha vida que se localizaram na periferia dos desejos não realizados, das fantasia mortas. Quero contar-te da angústia que me acompanha quando tranco a porta de meu quarto para conversar calma e tranqüilamente com a solidão. Senta-te comigo à beira da cama, toma minhas mãos e aquece-as, fazendo-me saber que viver pode ser ato compartilhado.
Deixa-me pousar o olhar perdido em um cantinho de tua alma, ofereça-me teu colo, finja que sou menina e leia-me as tuas histórias para acalantar meu sono. Dá-me teu colo protetor e assegura-me que os pesadelos não me alcançarão quando o brilho da noite apagar-se, que as brumas não povoarão os caminhos do amanhecer. Revela-me que o medo é mentira inventada para tentar nos impedir de enxergar a felicidade.
E, se me permites ousar, libero minha libido para sentir teus dedos acariciarem os meus sentidos, a despertar a mulher adormecida, uma mansa fera que não se sabe, se desconhece...
Ah, meu amigo, dá-me teu colo de pai, de irmão, de amante!