pintura/Lilianreinhardt 


                            (Memoriais de Sofia/Zocha)

             O tempo havia cozido os crivos. Mãos enrigecidas e a Vila Guaíra olhava melancolica aquele desfile em máscaras de ontem, de hoje, do amanhã, ela  seus personagens pelas banheiras já enrugadas  de seus próprios sonhos. Os pés frios da mulher estátua ainda a sustentavam sob a cerca de ripas e Zocha via!!!Os olhos circulantes, afundados nas covas, o sorriso esgueirando em meia-lua  pelas faces esquálidas, ela espreitava as artimanhas da filha. Havia esgotado as cordas para amarra-la à sanidade mas, o imenso nariz em cola deixava suas marcas por onde ela passava.  Como a ex-donzela  as diabruras do mundo esfolavam os olhos da Vila. Haviam subidas e descidas lamacentas que escorregavam os pés. O cheiro de bacalhau da venda do velho Ignácio chegava longe. Era aprumado, comerciante sério, embrulhava com carinho os pedaços de sabão amazonas, os pirulitos chupetas, os cadernos cheirosos de pauta de linguagem. O vento rosnava por entre os cedros da Bizantina, a Católica ficava numa planicie de perder a vista. Vento inquieto, levantava as saias da filha dela  e fazia o mundo ver suas intimidades naufragadas.  Decerto como aquelas mulheres, Damas do Dia que frequentavam a missa com seus véus negros e escondiam suas partes denegeradas. Isso aqui é apenas uma digressão. Zocha olhava na janela e via os rastros da esperteza sendo apagados pelo vento, via o rosto pouco feminino da filha da mulher  de cera enrugar-se dia a dia com suas tramas. A vida espreita e toca guisos na janela da ilusão. A menina Zocha ficava de olhos arregalados diante do buraco do mundo.

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