Nos porões do esquecimento
Lavar os pratos e roupas, com paciencia
molhar a planta, varrer o châo...
Nisso tudo vou descobrindo o significado do existir.
Assim, nada é desimportante nesta arte de viver.
Descobri que nem só de estrelas, primaveras e sonhos
nem mesmo de românticos outonos,é feita a poesia.
Mas desses diminutos atos concretos...no dia-a-dia.
Uma poesia humilde, que se desconhece a si mesma...
No entanto, caminhando mais e mais além,
vou descobrindo...entre lágrimas impotentes e inconsoláveis
que as velhas e sempre amadas escolas estão matando
todo instinto nato de aprender, por aprender.
E, nisso há também, um anseio apocalíptico de poesia.
Andando um pouco mais, talvez só por obrigação
vou desvendando, sem querer, um amor manchado de ressentimento,
que ainda luta por fazer-se íntegro...
Mas, inconsciente de seu poder sobre os fatos e recorrências.
No chão, a cada passo, vejo latas recicláveis deixadas por alguém,
apressado em recolher inorgânicos ao lixo limpo.
E brincando de moleque, chuto-as, só para ouvir um som familiar.
E, porque, se olhar mais acima só encontrarei olhares vazios
Tecnicistas, ansiosos para salvar o Planeta...de toda imundície...
Menos de si mesmos...
Vou descendo aos subsolos, abismos onde a (in) justiça se esconde.
Onde os gritos de socorro são abafados por olhares acusadores...
de quem se sente superior à raça humana, somente por estar ali.
Penso, então, que justiça e reciclagem se parecem.
Separando o joio do trigo, acaba-se misturando os dois
no produto final...se os olhos não souberem diferenciar.
Seguindo, como Caetano, sem lenço, mas cheia de papéis e documentos,
vou descobrindo, ao caminhar, que a democracia era apenas vã palavra
tão sonhada e idealizada, quanto rapidamente esquecida.
As torturas ainda continuam nos porões mais ocultos...
agora, tortura-se as palavras...aquelas belas e soberanas palavras
condenadas ao porão do esquecimento.
Será que existe escravidão maior do que essa?