O olhar do seresteiro
Tarde vazia se fez, após as treze horas,
quando, ao acaso, encontramo-nos na praça.
Seria mais um dia comum, sem desatinos,
não fosse o destino, fugaz, envolvendo-nos,
tornando-nos marionetes em sua tão bela
e inconfundível dança. Brinquedos nos tornamos.
Eu, mais louco e ainda mais leviano que nunca,
e você, bem, você estava divina. Como na comédia.
Dantes, fôssemos apenas joguetes do acaso,
seria perfeita essa peça, trazendo à tona
um amor vil, mas que não conheceu o pecado.
Sabendo de tais apostas da vida, pelo nosso viver,
passou-se diante de mim, uma cena outrora cruel.
Vi em nossos olhos, num relance, como que se fosse
imagem refletida num espelho quebrado, nossos dias,
nossos quereres, nossas vidas, tudo... enfim.
Cada minuto nosso, tudo que tinha valor para mim.
No breve período devaneante, esvaeci, e quase me esqueci
do porque de tudo ali. Era apenas encontro casual.
Não fora planejado. Unicamente pelo destino, em cilada.
Percebi então, deveras tarde, quando já havias passado,
que nada acontecera ali. Apenas meu olhar, sôfrego,
que cruzara com o teu, apaixonado. Por quem, ignoro...
e vazia mais uma vez, essa tarde se tornou. Escura.
Não por causa de seu olhar, não por sua causa.
Mas por culpa do destino, que me plantou esperanças,
mas não me advertiu dos danos de não se saber
ou não ter certeza de quando e como colher os frutos desta.
E ainda, não dando o preparo para saboreá-lo.
Triste sina, tristes são meus ais. Assim os canto.
Por culpa minha, também, singelo amante, esperançoso.
De a vir, mais uma vez, numa tarde, não triste, nem vazia.
Mas naquela tarde nossa. Esperanças vãs, ouço dizerem-me.
Apenas em pensamento, ordeno que se calem! Agora!
Tanto o destino, como a voz da vida, ambos zombadores.
Assim, sigo nessa tarde já escura, vazia.
Aguardo ansioso, nova manhã, nova tarde. Esperançoso.
Porque assim é que é. A vida do seresteiro, cangaceiro.
Assim se fez e faz-se tudo novo. A cada nova tarde;
caminhando, desejando encontrá-la. Num novo olhar.
Quem sabe, olhes também, e vejas, o que desejo eu...
jony marcos martins, 23/06/11