Conto do menino dos sonhos

Francelino tinha a morenice correndo solta na pele, nos olhos, nos lábios, a voz como quem desliza feito água em leito de rio álacre, ele soltava pipa como pássaro solta voo nas asas e sorria, e corria atrás do vento e pegava no rabo do vento pra fazer rabiola, vivia de pipa voada. Ele gostava era de rua, do céu aberto e das meninas que passavam com cabelos em meia franja e sorriso de sol. Ele queria tocar nessas meninas como se empinasse pipa, mas as meninas tinham cerol no corpo e queimavam...ardiam. Francelino dava estancadas de vento nas meninas-pipas e era no vento que as meninas costumavam sumir.

A morenice de Francelino era capaz de abrir de novo o céu, levando as nuvens dali e ver lá no horizonte a pipa voando além das chuvas, além das negras nuvens porque seus olhos eram feitos de uma espécie de pôr-de-sol que nunca se punha ou de sol entre as nuvens molhadas - era arco-íris na certa !, seu corpo amanhecia a toda hora porque ele era menino de sonhos e tinha um segredo, transformava as pipas em estrelas na escuridão da noite, seus olhos brilhavam. Segredou um dia como quem canta uma canção e me levou pra mostrar como tudo acontecia, ele veio, pegou na minha mão, me puxou... corremos, voamos, viajamos para além daqui. Tudo explodia de mansinho...

Francelino é desses meninos que dormem sobre as nuvens e corre ventos, corre mundos. Agora, Francelino dana a correr no meu mundo sem fim, sim ele escorrega no meu mundo, procura, e eu me perco e me escondo, a gente se procura e se encontra, depois a gente dorme ainda acordados de sonho, a gente dorme no sonho um do outro.

Alessandra Espínola
Enviado por Alessandra Espínola em 26/06/2011
Reeditado em 27/06/2011
Código do texto: T3057889