[No tempo em que te perdi]

Ouve-se dizer por aí: sou um homem de meu tempo... A frase é forte, é pretensiosa, carregada de arrogância... quando penso que apreendi, ou melhor, que fiz um sentido destas palavras, logo recaio em silêncios caminhantes, em descompreensão de paradoxos, e na amargura de estar vivo, e longe de ti! [E estou vivo assim?!]

... Se aplico um pronome possessivo ao tempo, o que eu descubro: espanto, tristeza, desalento... Pois foi em "meu" tempo que eu te perdi, e não em outro [tempo], ou - o que seria insuportável! - não no tempo de outro... E se o tempo em que eu vivo me cria assim, então, não pode haver motivos para orgulho besta, para arrogâncias... É o tempo das chagas de Jó, mas sem crença na remissão...

Não, não! Abomino o tempo da perda! Sonho o tempo de recomeçar, de reflorescer! Diante do tempo, o que me enche os olhos de esperanças é a interrogação constante que nasce de uma perplexidade quase infantil... Ah, os meus olhos sonhadores...

[Penas do Desterro, 02 de julho de 2011]

Ps. Cada poema é escrito para um momento, e fala de uma continuada emoção, algo que perdura no tempo, como aquela melodia que se esvaece no ar, mas persiste na mente; ou como o calor que fica ainda no leito já vazio. Ainda hei de abandonar este abominável costume de datar os poemas...

Carlos Rodolfo Stopa
Enviado por Carlos Rodolfo Stopa em 02/07/2011
Reeditado em 30/01/2017
Código do texto: T3070071
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