O dia não aponta para um renascer... O céu esta pesado, cinza, o céu chora. Onde meu céu de anil... Onde aquele raio que me descobre e me esquenta ainda no leito... Tudo me foi roubado e na janela exponho meu rosto à chuva que cai e que não me lava a alma. São pingos frios, quase tão quanto meu coração.
         O voltar á cama seria o esperado. Me agasalhar, procurar nos lençóis o afago, a proteção. Me aninhar, me ninar. Fechar os olhos bem forte e embarcar em mais um sonho, me entregar ao nada, ao quase nada, na ausência do tudo.
           Mais uma vez, vou de encontro ao previsível. Abro o armário, escolho um vestido longo, coberto de flores vivas e com ar de primavera. Visto-o. Olho-me no espelho numa procura louca pela alegria perdida. Onde o riso frouxo... Em que esquina da vida ele se perdeu... Escovo os cabelos... Calço uma sandália nua, pés expostos.
          Parto. Destino: A feirinha à beira-mar que tantas vezes me recebeu com café, beijús, araçás, mangabas jenipapos e muita, muita alegria. As enormes poças de agua formadas pela tempestade matutina lambem o vestido florido, empapam as sandálias. A chuva escorre molhada... Molhava. Meu cabelo se prega nas minhas costas. 
           Aos poucos me misturo à paisagem. Eu e a chuva nos entendemos. Uma cumplicidade se instala. Aos poucos meu pai sol é tão somente uma doce lembrança.
            Só aí entendo que não era a chuva que chovia em mim, eram minhas lágrimas...