(Memoriais de Sofia/Zocha)

                        Céu de marimbondos, céu de gigantes marimbondos de aço voadores. No  cinza,o carvão espraiado, esfumado, lambuzado, a geada caindo, as chuvas haviam amolecido a terra,os pássaros zarpados do texto. O quintal da vila já havia vivenciado séculos e as tenras pitangas se agigantavam como abóboras esperando a hora do cal. Ninguém ousava sair de casa. As portas congeladas, o hemisfério parecia haver mudado de eixo. Só a cotovia cantava ao longe, no outro plano da prancheta. Afinal, o fogão apagado, não há escrita nos beirais gelados da casa,só a lenha sêca debaixo da sola aguardando os pés dos caminhos, o que acontece com esse fogão desativado que não urra, não berra, não corcoveia e congela cada vez mais as onças dos rostos pálidos debaixo do telhado? Zocha disse mais de uma vez, chama o velho polaco estradeiro que ele desenterra o que tá inscrito no fogão, tira os ossos de dentro dele. O inverno conta-nos segredos, da lebre, do cervo, da invenção do mundo, o que seria daquela caverna sem as labaredas.- Adiante,moça! Aconteceu que a chaminé tava entupida com uma cachopa de marimbondos, caíram tudo...veja que quentura!

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