Poema a Dois
Escrevo um poema
Em meu celular
No trânsito mais paulista do ano.
Faz frio
No meio da avenida das laranjeiras.
Um ato de covardia do Sol
Para o tal cristo redentor,
Que o saúda de braços abertos
Quase que diariamente.
Há algo mais frio do que escrever um poema em um celular?
Chegando ao Méier,
O ônibus esvazia e o frio é cada vez maior.
O calor humano é a chama mais instável de hoje em dia
Até mesmo com o ônibus lotado de pessoas.
E o frio da minha alma? Aonde fica?
Foi se embora quando cheguei em casa?
Não, não mesmo !
Escrever um poema no celular é frio
Viver é frio
Faz frio em todo o caminho
E amanhã
Outro alvorecer congelante chegará.
Mundo moderno
Mundo de ônibus
Mundo de celulares.
E o sol cada vez mais se entregando à lua.
(Roberto Costa/Ana Gonçalves)