Poema a Dois

Escrevo um poema

Em meu celular

No trânsito mais paulista do ano.

Faz frio

No meio da avenida das laranjeiras.

Um ato de covardia do Sol

Para o tal cristo redentor,

Que o saúda de braços abertos

Quase que diariamente.

Há algo mais frio do que escrever um poema em um celular?

Chegando ao Méier,

O ônibus esvazia e o frio é cada vez maior.

O calor humano é a chama mais instável de hoje em dia

Até mesmo com o ônibus lotado de pessoas.

E o frio da minha alma? Aonde fica?

Foi se embora quando cheguei em casa?

Não, não mesmo !

Escrever um poema no celular é frio

Viver é frio

Faz frio em todo o caminho

E amanhã

Outro alvorecer congelante chegará.

Mundo moderno

Mundo de ônibus

Mundo de celulares.

E o sol cada vez mais se entregando à lua.

(Roberto Costa/Ana Gonçalves)

Ana Gonçalves
Enviado por Ana Gonçalves em 06/07/2011
Código do texto: T3078220
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