Quando há afinidade

Afinidade é um dos poucos sentimentos que opõe resistência ao tempo e ao depois.

A afinidade não é o mais brilhante, mas o mais sutil, amável e sagaz dos sentimentos.

É o mais autônomo também.

Não importa o tempo, a ausência, os progressos, os espaços, as impossibilidades.

Quando há afinidade, qualquer reencontro toma de volta a relação, o colóquio, a conversa, o afeto no exato lugar em que foi suspenso.

Ter afinidade é muitíssimo difícil.

Mas quando existe não necessita de códigos verbais para se mostrar.

Existia antes do conhecimento, irradia no decorrer e continua a existir depois que as pessoas deixaram de permanecer unidas.

Afinidade é ficar distante pensando parecido a respeito dos mesmos atos que impressionam, emocionam ou sensibilizam.

É ficar dialogando sem trocar palavras.

É receber o que vem do outro com aceitação antes da compreensão.

Não é sentir a favor... sequer sentir em oposição...

Nem sentir para... Nem sentir por....

Nem sentir pelo.

Afinidade é sentir com.

Sentir com é não ter necessidade de tornar inteligível o que está sentindo.

É observar e compreender.

É mais calar do que falar, ou, quando falar, jamais explicar: somente assegurar.

Afinidade é ter perdas semelhantes e idênticas expectativas.

É dialogar no silêncio, tanto nas possibilidades produzidas quanto das impossibilidades vivenciadas. Afinidade é tomar de volta a relação do lugar em que parou, sem lastimar o tempo de separação. Porque tempo e separação jamais existiram.

Foram só oportunidades dadas (tiradas) pela vida.

Tatiane Gorska
Enviado por Tatiane Gorska em 09/07/2011
Código do texto: T3085318
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