Darma Sujo de Concreto

Lá estava a figura dele, flutuando sobre o lixo que entupia as calçadas. Cidade cinza e lágrimas de concreto. Óleo diesel nas escavações do coração de Judas Iscariotes. Um sorriso falso no reflexo do vidro embaçado, na noite luminosa das canções da geração perdida. Sete anos após a guerra, e os fantasmas ainda assombram os casarões vazios e frios onde circula o vento doentio da morte. Mentes frenéticas como Trensurb em ligações magnéticas de alta voltagem. Canos quebrados jorrando seu esgoto em direção ao caos matemático da grande cidade, no sonho luminoso do anjo da constelação líquida. Veias e venenos, soprando no cais do porto desde a saída da última embarcação, com serpentes no convés, se lançando ao mar de águas sujas sob um céu sem cor. Vidas e avenidas, se cruzando como um cérebro em conexões lentas com a realidade. Todos fadados ao fracasso, da prisão de gravatas à flanela colorida que abana ao carro de vidros fechados. Mentes subjetivas e olhos fechados ao acaso, subtraem a virtude para verem melhor as propagandas e o cinismo do sequestrador. Todos amontoados se acotovelando na selva de concreto sujo, pisando sobre o Darma dos sofredores telepáticos, buscando uma saída em cada esquina, para acordar numa cama de plumas e adormecer como tijolo de construção - enfileirados. Nesse ballet cotidiano a eternidade se confunde com os horários do metrô, e a virtude do honesto vagabundo se apaga nos passos apressados das pernas violentas e cegas que trituram o vazio. Darma apagado ainda soa baixinho no sinal de transito, sujo de concreto, na cabeça desnuda do locutor do cotidiano. Braços viajando no ar, mensagens presas na jaula do tigre - expulso das montanhas de Shangai, leve lembrança ainda presa numa garra afiada solta num buraco frio no seu peito.

Cidades em catarse para o anjo da desolação, num pouso triste deslocar sua asa. No último ato da tragédia cravado num abismo do Darma. Pouco para o anjo louco da cabeça de engrenagem. No entanto, leve e abstrato é o dia - num voô angelical pelas nuvens brancas de algodão... aos poetas da catarse.

Reny Moriarty
Enviado por Reny Moriarty em 11/07/2011
Código do texto: T3088174
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