O VELHO MOÇO DO ASILO

Oh minha doce e querida Janete

Minha esposa, minha vida

O quanto tenho de você em mim

E quanto esse tempo sem você me ensinou

Que partilhar é palavra tua,

e perdão é minha verdade nua e crua

Hoje há geada em meu peito

Como uma das fases das estações

Que vejo passar

Ano a ano

Até já decorei cada flor de cada fase

É incrível Janete

O poder interno do arrependimento em um homem velho

E o poder da mente sonhadora

O que me faz feliz Janete, é o total reconhecimento

Da tua pessoa linda, mesmo que tardio seja

Tua lembrança sensibiliza até o homem mais vil e embrutecido

(risos)

Sinto falta do teu café

Seu silencio calejado

Seu olhar tristonho

Teu sorriso marcante

Você deixava a toalha no banheiro

Fazia a comida mais saborosa que eu já provei

Em todo este meu destino andarilho

Seu cheiro

Suas mãos delicadas

Seu avental

Os pratos na mesa

E o carinho por nossos filhos rebeldes

Crias de minha dureza

São retrato gravado na alma deste velho arrependido e apaixonado

Janete, os moços da igreja vem aqui uma vez por mês

E nos trazem alegria, arte e poesia

Até recitei uma em tua homenagem,

Todos se emocionaram Janete!

Viu como te adoro?

Me perdoe mais uma vez, por não ter dado devido valor...

Daquelas mulheres as quais me diverti,

Conheço somente o corpo,

E lembranças são gosto amargo

Mas de tua doce alma posso cantar louvores minha querida!

Se pudesse caminhar com a firmeza de antes

Fugiria todos os dias para lhe trazer flores.

Peço também todo santo dia

Ao mesmo Deus a quem você amava,

E que me fez enxergar meus erros,

Que Ele me leve contigo

Enquanto isso eu sento todos os dias lá em nosso banquinho,

Sim, deu trabalho, mas eu voltei à nossa velha casa e os moços

Me ajudaram a leva-lo pro asilo,

Eles me reensinaram a sonhar

E assim como eles eu sou moço novamente Janete,

Um velho adolescente,

Emaranhado de amores por ti

Agora deixe-me ir

Hoje eu consegui fugir

O jovem coveiro já me conhece

E já deve ter ligado pro meu asilo

Adeus Janete!

André Brandão
Enviado por André Brandão em 12/07/2011
Reeditado em 13/07/2011
Código do texto: T3090214