The End*

Permitiu uma lágrima rolar....sentiu o quão doce era ainda o sopro da palavra na nuca. Nos lábios trazia ainda o sabor da pele cereja. Todas as utopias desmedidas, todos os enganos dos sorrisos frouxos, as certezas permitidas.
Nos braços o peso suave das madressilvas em braçadas atadas em verde fita.
As escolhas ainda ecoavam, em cores vazias, em meio rasgos de lucidez sem simetria...
O corpo, trêmulo invólucro d'alma, serenou-se perante todas as guardadas falas.
Na memória da pupila, ainda um estilhaço de céu luziu... uma estrela chorou um verso, lembrando-a da luz que a seduziu.
Ouvia ao longe os acordes da música dos braços que a embalaram, que declamaram em gestos...um poema.
Apertou o olhar e vislumbrou no imo os passos da valsa que trilhou, tal dançarina, no caminho. Lembrou-se da saia rodada, a carícia do tecido, a alegria de desnudar o vestido...
Permitiu outra lágrima...guardou em pilhas organizadas todas as juras, as flores esquecidas, as ardentes letras, o viço da face, as asas das palavras borboletas.
Engavetou simetricamente todos os mútuos sonhos. Dobrou as ilusões sentidas, empilhou as dores merecidas, as tristezas partidas... enrolou em papéis de seda as alegrias imerecidas... aspergiu lavanda nos cantos sombrios e perfumou o pensamento como se fosse o último, derradeiro.
Arrancou do peito os olhares amorosos e os jogou na última gaveta.
E na presença da Lua, escorada na janela, deixou na cômoda, a vida que que um dia, pensou ser dela.

KARINNA*


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Karinna
Enviado por Karinna em 14/07/2011
Código do texto: T3094561