À margem

marginais dia e noite
em favelas penduradas
amoitadas em becos da periferia
anjos sem dignidade
o vento a escutar seus ais
horror sem castidade
no balanço dos corpos
crianças chapadas
a ferro feridas pela maldade
pra sempre marcadas

O troféu

vício da dor
mentes drogadas pelo abandono
florzinhas murchas em jardim devorador
Ô sociedade cruel
arranca-lhes pétalas como seus donos
mãos maléficas erguem-nas como troféus
nas esquinas do medo abandonadas
entregam-se ao nada, ao vazio
nas armadilhas das ruas jogadas

Dores

meninas
frutos proibidos
manchadas pelo sêmen pecador
sumos em ventres não-formados
escorrem por machucadas vidas
corpos famintos,
pureza e inocência caídas
vítimas atraídas por labirintos
vida fácil sem acolhida
peregrinas de caminhos e ninhos