A PONTE DE CORDAS

Acordei e sem saber como, estava nesta ponte de cordas

A névoa me impede de ver o que há em cada extremidade,

As pontas somem num horizonte encoberto pela neblina

Olho para baixo e um abismo se abre sob meus pés

Vejo apenas as cordas, o abismo, um céu ameaçador e a névoa

Não fossem aquelas estrelas que testemunham meu tormento

Pensaria que esta ponte está suspensa no nada

E eu aqui, preso entre o que fui, o que penso ser e o que sou.

O silêncio me diz que esperar por ajuda será inútil

Apenas meus passos poderão levar-me ao outro lado

Tento andar numa das direções e percebo desse lado as tábuas estão quebradas

Tenho a estranha sensação de que o lado para o qual não posso ir

É o lado de onde parti, minha cabeça sarcástica ironiza meu coração tolo

Dizendo que não há como voltar atrás,

Eu olho para o outro lado e mais uma vez, covardemente, paraliso

Olho para baixo e a escuridão do abismo me convida

Como quem diz: pula!

Reluto, e mais uma vez olho para a ponte

Meu coração romântico me faz respirar fundo

Minha cabeça me diz que não vale à pena, e que o melhor é pular

Covarde para andar, covarde para pular

Espero parado não sei pelo quê

E o tempo, desgraçado, não espera comigo

Em meu delírio vejo um relógio gigante se formar no céu

Seu tic-tac soa a meus ouvidos como a voz de uma cantora desafinada e feia

Que canta repetidamente:

Menos um segundo...

Menos um segundo...

Gargalha e volta a cantar

Menos um segundo... ha-ha-ha.

Mais um a menos.

Toda a verdade se põe diante dos meus olhos

Nada que eu já não soubesse

Mas a petulância e o orgulho de minha razão

Insistem em me fazer inerte.

Não sei por quanto tempo mais ficarei por aqui

Não sei ainda se irei seguir em frente ou pular

Tenho porem um desejo

Um desejo egoísta, reconheço.

Desejo que quando enfim, tome uma decisão

Ela ainda esteja por lá

Seja para juntar meus pedaços na queda

Seja para segurar a minha mão em meu primeiro passo de volta à terra firme.

Artsu Taraz
Enviado por Artsu Taraz em 16/07/2011
Reeditado em 16/07/2011
Código do texto: T3099411
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