A PONTE DE CORDAS
Acordei e sem saber como, estava nesta ponte de cordas
A névoa me impede de ver o que há em cada extremidade,
As pontas somem num horizonte encoberto pela neblina
Olho para baixo e um abismo se abre sob meus pés
Vejo apenas as cordas, o abismo, um céu ameaçador e a névoa
Não fossem aquelas estrelas que testemunham meu tormento
Pensaria que esta ponte está suspensa no nada
E eu aqui, preso entre o que fui, o que penso ser e o que sou.
O silêncio me diz que esperar por ajuda será inútil
Apenas meus passos poderão levar-me ao outro lado
Tento andar numa das direções e percebo desse lado as tábuas estão quebradas
Tenho a estranha sensação de que o lado para o qual não posso ir
É o lado de onde parti, minha cabeça sarcástica ironiza meu coração tolo
Dizendo que não há como voltar atrás,
Eu olho para o outro lado e mais uma vez, covardemente, paraliso
Olho para baixo e a escuridão do abismo me convida
Como quem diz: pula!
Reluto, e mais uma vez olho para a ponte
Meu coração romântico me faz respirar fundo
Minha cabeça me diz que não vale à pena, e que o melhor é pular
Covarde para andar, covarde para pular
Espero parado não sei pelo quê
E o tempo, desgraçado, não espera comigo
Em meu delírio vejo um relógio gigante se formar no céu
Seu tic-tac soa a meus ouvidos como a voz de uma cantora desafinada e feia
Que canta repetidamente:
Menos um segundo...
Menos um segundo...
Gargalha e volta a cantar
Menos um segundo... ha-ha-ha.
Mais um a menos.
Toda a verdade se põe diante dos meus olhos
Nada que eu já não soubesse
Mas a petulância e o orgulho de minha razão
Insistem em me fazer inerte.
Não sei por quanto tempo mais ficarei por aqui
Não sei ainda se irei seguir em frente ou pular
Tenho porem um desejo
Um desejo egoísta, reconheço.
Desejo que quando enfim, tome uma decisão
Ela ainda esteja por lá
Seja para juntar meus pedaços na queda
Seja para segurar a minha mão em meu primeiro passo de volta à terra firme.