GUITARRAS DE PRAGA PRIMAVERAS DE LIVERPOOL

(...) Que saudade das guitarras de Praga,

das primaveras de Liverpool,

daqueles desvairados outonos paulistanos,

do mundo em que vivíamos,

da astrologia, da cosmografia, da paleontologia,

da oceanografia, da empírica e imprecisa meteorologia,

das aulas de artes, da educação física, do francês, do inglês, do canto orfeônico,

dos cisnes brancos em noite de lua, dos verdes mares de norte a sul,

do rancho das flores, da alegria dos homens, do raiar da liberdade no horizonte da mãe gentil...

(...) Que saudade das estórias da História...

dos persas e dos fenícios, do império Otomano,

dos germânicos, nórdicos, visigodos e ostrogodos,

dos mongóis e ameríndios, dos egípcios, fenícios e assírios,

dos helênicos; espartanos e atenienses...

das Capitanias Hereditárias, dos Farrapos, dos Canudos, do Ventre Livre, da Lei Áurea...

da geografia humana;

de mundos e Raimundos,

da intrincada e incompreendida trigonometria...

das doces bacias hidrográficas, artérias de sangue azul a caminho do mar salgado,

da pacífica e espumante sabedoria Atlântica...

(...) Que saudade das aulas de português do querido Professor Adir...

dos radicais gregos e latinos, dos afixos, prefixos e sufixos,

da etimologia, das figuras de linguagem,

dos silogismos e neologismos,

das metáforas, metonímias, silepses, hipérboles, catacreses,

dos hibridismos e onomatopéias,

das canções que louvavam espaços e galáxias,

de encontros vocálicos, desencontros consonantais,

de romances alienígenas,

dos menestréis, dos repentistas, dos cordelistas, dos violeiros, dos seresteiros...

(...) Que saudade do Capitão América, do Homem Aranha,

da Mulher Maravilha, do Fantasma, do Batman, da Mulher Gato, do Nacional Kid,

do Super Homem, e de todos os arautos da liberdade do pós-guerra,

do Flower Power, do Women’s Lib, do Black is Beautiful,

dos lamentos cívicos da guitarra de Jimmy Hendrix,

da voz rouca e suplicante de Joe Cocker crying out for his friends,

daqueles sonhos americanos de Abraham, Martin e John...

(...) Que saudade das heroínas de cinturões e botas douradas,

com seus generosos espartilhos e filantrópicos decotes...

dos analógicos artefatos, perdidos pelo espaço,

dos argonautas, dos cosmonautas, dos deuses e dos astronautas,

das conquistas da espécie,

do Dr. Smith e do menino Willy, do Spock e do Capitão Kirk ...

(...) Que saudade das Big Bangs, Big Bands, Supernovas,

das esquinas siderais, dos outdoors, dos termômetros e relógios digitais,

das enluaradas calçadas de New Orleans,

dos dissonantes blues de B.B.King,

das encharcadas coreografias de Gene Kelly,

do elegante levitar dos pés de Fred Astaire,

das luzes da Ribalta, dos Tempos Modernos,

da poesia sem palavras de Chaplin,

das iluminadas noites de Paris,

da Lisboa de outras eras...

(...) Que saudade das quermesses, dos bailes de debutantes,

do correio elegante, do Sargeant Pepper, de Penny Lane,

de Beto Rockfeler e das novelas em preto e branco,

da jovem guarda e da tropicália,

daquelas canções singelas,

aquelas canções pra elas...

I wanna hold your hand, All you need is love...

(...) Que saudade das guitarras de Praga...

Das primaveras de Liverpool...

De John Lennon e Frank Zappa

Dos cavaleiros do espaço siderúrgico

Colombos, Gagarins e Armstrongs

“A Terra é azul!!!

Que mundo maravilhoso!!!”

(...) Por onde andarão Barbarela e Flash Gordon ?

(...) Que saudade daqueles gibis antigos, dos heróis em quadrinhos, dos multicoloridos enredos de outrora...

Texto de Zizifraga

(09/03)

Reeditado em setembro de 2010.

fl.02/02

Zizifraga
Enviado por Zizifraga em 21/07/2011
Reeditado em 22/01/2012
Código do texto: T3109295
Copyright © 2011. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.