Nascer e morrer, num único dia
O tempo me foge por entre as horas apressado...corro...não alcanço...na outra margem, está meu personagem...rindo e fazendo graça...eu plantada feito uma palhaça...tentando agarrar o que não toco...procurando o que não vejo...sentindo o que nem sei se existe...
Algo me diz que atrás dessa trincheira a guerra acaba...que não há mais nada a conquistar...que nem rios e mares tem oscilações...que o céu é sempre da mesma cor...
Que suprema alegria pode existir nesse duelo tão constante, que nem sempre vence quem merece e raramente por aqui se tece para quem o merece...mas existe sim a força que gravita ao redor, impulsionando uns e calando outros...e de outro lado uma febre de reações que se casam na mais perfeita sintonia...
Em que tempo agarrar esses ponteiros ansiosos que regem o dias afoitos...essa imensidão de horas que se amontoam nos poucos espaços vazios que sobram de mim...sufocando a fala...paralisando os dedos...
Não posso conter a intrepidez que galopa no dorso das minhas palavras...não aceito os arreios do tempo, que manietam meu corpo na sombra dos dias sem antever as noites longas...nem quero o freio puxado que cala os sentidos e esconde atrás dos risos...não me permito segurar o sal das lágrimas para não verter e molhar o linho branco das promessas...tanto quanto não aceito o vinho tinto derramado sem culpas, ser impiedosamente amaldiçoado...
Atrelo meus pés...e se a luta exige mais força...entro de vez como furacão e varro o que não posso conter...melhor assim do que morrer do lado de cá dessa trincheira sem conhecer o prazer de nascer e morrer num único dia...