BRLHO ETERNO

Existe uma ponte que tentamos atravessar.

Desdobramentos da vida em chuviscos de morte.

Existe uma força que impele e insiste em transformar.

Nada virá por acaso, não existe azar, não depende da sorte para revitalizar a chance perdida, mas terei você ao meu lado quando atravessar, sei que estará lá, que me dará guarida quando o portal descerrar.

O túnel iluminado é extenso, desaparece após longa jornada. O maior brilho, carrego comigo, é a certeza ante o castigo, aliviando um peso imenso e os percalços da estrada.

O barqueiro segue seu rumo, frio, lento faz seu trabalho, entregando almas. Não preciso ter receio de onde aportar, por que terei você ao meu lado, sei que estará lá quando a corda for lançada.

Os duendes e as fadas, os elfos e as deusas da mata volitam num balé de arrepiar. Negros anjos com asas longas cintilantes seguram minhas mãos, mas sigo confiante, me deixo conduzir, porque sei que terei você ao meu lado, sei estará lá quando eu pousar.

A ponte me espera, suas cordas balançam como se me convidassem para um passeio, não é minha a escolha, esse arbítrio não me compete, outros já foram e nada revelaram, meus passos são firmes, retroceder não é uma opção.

Enfim só, como já foi antes e será de novo. Conheço cada passo, nada foi perdido ao longo da estadia, as bagagens devem ser revistas, a viagem inicia quando a luz se fizer mais forte, o peso do ouro não é importante, nada compra.

O frio cortante dilacera os sentidos, arrebata os incautos às visões turvas e sem cor. Esguicho gélido, profundeza sombria de água densa e odores fétidos, cabeças e pés se alternam a tona. Tenho que atravessar, o barqueiro tem horário, o anjo do tempo não. A impermanência mostra a saída, acende o túnel que vai dar na senda eterna.

A jornada recomeça e eu não tenho medo, por que terei você ao meu lado, sei que estará lá quando a morte me trouxer a vida.

Anderson Du Valle
Enviado por Anderson Du Valle em 26/07/2011
Código do texto: T3118917
Classificação de conteúdo: seguro