Nos pés da cama um par de chinelos

A casa estava com as janelas todas fechadas, o cachorro continuava dormindo aos pés da escada, onde sempre dormiu, a tristeza estava estampada em seu olhar mirando o nada, como se soubesse que sua dona, aquela companheira de tantos anos, havia morrido um dia antes.
O prato ainda tinha um resto de comidas que ela tinha lhe dado antes de ir as pressas para o hospital, de onde não mais voltou.
No interior da casa o silêncio chegava a doer na alma, o radinho de cabeceira que ela escutava todos os dias estava calado, mudo... como se guardasse luto por sua morte.
Dona Maria como era conhecida no bairro, morava sozinha, não tinha parentes, todos já haviam falecidos, viuva e aos 93 anos de idade, era muito querida por todos no bairro onde morava a anos.
Logo que eu entrei na casa, avistei o velho par chinelos de pano que a acompanhou por tantos dias, lá estavam eles, um ao lado do outro, inertes, pensei comigo, coitados sem a sua pilota, a antiga companheira eles não podiam mais andar, era como se tivessem morridos também.