Agreste por natureza

Este lago epitelial sou eu

debaixo das beiradas marinhas,

não tão lentas, nem calmas,

mas abruptas e repentinas

buscando cardume e luas,

cuja imensa ternura adoça agruras.

Corpo-oceano marulhado que geme,

alisa e contorce águas deslizantes,

ora poluindo a desatinada incerteza,

antes que ela emudeça sonhos sedosos,

vulcânicos, sidéreos, além-matéria,

somados ao salitre, ocre e mel.

Vagas gigantes e mansas vagas permeiam

minha orla de cais deserto e imprevisto,

quando o sol revivescente deita e se esconde,

nas minhas entranhas incendiadas,

virgens do infortúnio, bole e bole

com meu corpo-mar, doce-sal.

E minhas bordas arrepiam,

sonhos secretos expõem,

intimidades devassa, por culpa do amor,

esta ponte cósmica oceano-céu,

que me possuiu, transfigurando

toda minha umidade luminosa

nos sons que rebentam rosais.

Santos-SP-11/12/2006

Inês Marucci
Enviado por Inês Marucci em 11/12/2006
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