Quando a alma participa

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O amor é um encontro acima da sensibilidade, acima da fantasia, acima da natureza.

Enquanto permanecer ancorado apenas no prazer haverá altos e baixos;

Depressões seguir-se-ão a frenesis efêmeros.

A mais leve dor de dentes bastará para liquidar todo ardor amoroso devido a um pouco de estética ou ao sentimentalismo.

É necessário despojar o amor, simplificar, desintelectualizar.

Não é fácil.

A natureza exige sua ração de prazer e a união de dois corações consiste em algo completamente diferente.

Após algumas horas, dias, semanas, de intenso embate corporal amoroso, o corpo se aplaca.

É quando a vontade passa a recusar o prazer sensível, os sentidos adormecem, a procura escasseia.

Inicia-se “a noite dos sentidos”.

É nessa hora que o amor torna-se uma coisa séria e indispensável, porque é quando a alma passa a participar do ato de amar.

É nessa hora que o amor torna-se forte e verdadeiro, exilando definitivamente, ódios, adultérios, traições, egoísmos.

É nessa hora – quando a alma participa - que se experimenta a libertação que o amor proporciona; uma liberdade nova, extensa, jubilosa. É quando realmente os amantes se perpenetram, podendo distinguir-lhes a cor dos olhos, a beleza do corpo, a grandeza dos gestos de carinho, o conhecer das horas sem precisar de relógio.