FOTOGRAFIA DA SAUDADE.

Apesar de invernal a tarde se deitava quente, seca e colorida,preparando um banquete de cores para receber a noite que dentro de poucas horas se debruçaria sobre o horizonte.

Era sábado, dia de afazeres/recordações/faxinas/saudades.

Abriu meio que ao acaso a velha caixa de fotografias que havia muito deixara bem guardada, fora do alcance dos olhos, o que fizera de propósito para não ter que resistir a tentação.

Em meio a retalhos manuscritos,rascunhos de poesias que jamais sairam da imaginação , fotografias já amareladas pelo tempo.

Começou a vasculhar e revirar como que para retirar as teias traçadas pela saudade fria de momentos quentes de outrora.

Folheava albúns, revivia momentos coloridos e podia até sentir o perfume que exalava das roupas enfeitadas de festa,quase podia saborear os pratos dos almoços em família, havia a sensação de poder ninar novamente os pequeninos, enfim,como diz o ditado " recordar é viver".

Não quis ir além das fotos que estavam na superfície,por assim dizer do pequeno baú/cofre de recordações,sabia com toda exatidão que iria sofrer.

Mas sabe como é a tal teimosia que afasta e aproxima a saudade na mesma proporção que as lembranças.

Deixou as mãos livres para alcançar o que já sabia querer encontrar. Retirou uma a uma as fotografias de um já velho,para não dizer antigo amor.

Pôde reviver as formas ,os cheiros, os sorrisos, os beijos, ouvir as canções, curtir as estrelas,abraçar os abraços e chorar com a certeza de que o que restou de concreto foram apenas escritas em pedaços de papel.

O sorriso compartilhado, que antes era emoldurado no porta-retratos,amarelou/feneceu.Perdeu o lugar na estante do quarto,se ausentou da prateleira da sala.

O brilho nos olhos apaixonados se turvou/petrificado vagando no tempo em que olhava a alma debruçado na janela do amor correspondido.

As vestes impecáveis em desalinho festivo,talvez se ainda existirem são trapos/farrapos que remontam na memória atual um enorme tapete de retalhos confeccionados de lembranças.

Suspirou, guardou a fotografia que ora colorida se via com outros olhos hoje em dia...

...O que já fora um retrato colorido, hoje não passa de uma mera fotografia em preto/branco e saudade.

Márcia Barcelos.

20/08/2011.