De que vale carpires às bordas do Abismo?   Acaso vão te devolver os sonhos ressequidos, os risos desviados, as mãos sem esperança?   A amargura escondida, a suspeitada ternura? 
         E o que farias tu com tal material, tão inservível ao Mundo?   Um dois, dez poemas?  E para que?  Reduplicar a tua, a humana impotência?
        De que vale, repito, lamentares perante esse Hades vivo, perverso, imponderável, guardado por fortíssimas e inumeráveis sentinelas?
        ...Mas, tudo considerado, melhor é que apenas chores: nada lances ao papel, por bom favor.   Não faças da tua tragédia individual um drama coletivo.  Com que direito?  Para qual finalidade, homem sem Deus?

Enviado por Jô do Recanto das Letras em 21/08/2011
Reeditado em 24/11/2012
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