... Na floresta escura sentei e esperei...

Na floresta escura sentei e esperei

Pereira Filho

22.08.2011

Eu gosto de ler o Frei Betto. Tenho alguns desacordos ideológicos, ou desajustes, mas ele é, sem dúvida, o meu escritor favorito. Tem um estilo agradável e de fácil assimilação, bem como uma postura pessoal bem parecida com a sua escrita. Assisti alguns vídeos recentemente com entrevistas suas, e não vejo diferença entre o Betto escrito e o falado.

Mas o que me agradou nele tem a ver com a crise de fé. Já há alguns meses passo por uma aridez espiritual tremenda e venho a cada dia questionando e desistindo da fé. Já não digo que não tenho nem mesmo a fé num deus pessoal, e sim que não tenho fé, realmente. O caminho do agnosticismo é o mais razoável no momento. Cessaram as perguntas, cessaram as dúvidas. As respostas são insuficientes e castradas.

Eis que tenho, então, acesso ao testemunho de sua juventude. Recém ingressado na ordem dominicana, prova de certa aridez, questiona a fé e a existência de Deus. A sua experiência de base não está em sintonia com um deus meramente conceitual e objeto do pensamento. Dirige-se a um dos superiores e declara-se em crise de fé.

O vivido frade a ele lança uma questão: “Se você estiver caminhando por uma floresta, à noite, e as pilhas de sua lanterna acabarem, o que você faz: Caminha no escuro, ou senta-se e espera a chegada do amanhecer?” A resposta, segundo ele, fora a óbvia: “Espero o amanhecer”, ao que o sábio frade diz: “Então senta, e espera o amanhecer”, e, entregando em suas mãos as obras completas de Santa Tereza de Ávila o anima.

Nasceria aí, então, o novo Betto. Já não diz que perdeu a fé, mas que transformou a qualidade de sua fé; um deus conceitual dá lugar a um deus pessoal, fruto da experiência. Parafraseando Pascal: “Deus não se pensa, Deus se experimenta”, e daí sua vida prossegue não com um novo brilho, mas com uma verdadeira consciência do mistério.

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Agora entro eu, que há meses berro e vago - divago - na floresta escura. Converso com feras, corujas e criaturas fantásticas, mas a escuridão não me permite saber onde estou e para aonde estou indo. Já há semanas e semanas venho abrindo as trilhas, arranhando-me todo, e nada da luz! Já não quero a luz por ela mesma, mas ao menos para saber onde estou pisando. Não conheço o chão da floresta, e esta situação começa por me amedrontar.

Encontro uma pedra e sento. Uma fada desajeitada tenta me ajudar. O pouco que aprendo com ela é: Fique sentado e espere o amanhecer.

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