Um brinde à tristeza

Eu preciso de um remédio que me deixe triste eternamente. Na tristeza provo da profundidade e nela encontro sentidos, deslumbres, pessoas. Na alegria sou arrogante, autosuficiente e imprudente. Também é na alegria que cometo os grandes erros. Não sei por que, mas as pessoas as quais mais simpatizo são aparentemente pessoas tristes. Gosto do marrom, do preto, do cinza. Gosto dos móveis antigos, de canto da sala. Cristaleiras, paneleiras, o que quer que seja. Escuras e discretas. Odeio o novo: ambientes clean e vidro, muito vidro. Me sinto bem com a lâmpada aparecendo, pendurada por um fio; ah, e a mesa coberta por uma toalha, e banquinhos tortos? Pão com manteiga e café com leite... lembro-me de minha avó. O pão da casa dela tinha um cheiro diferente de todos os que já provei - e eu como pão tal qual um brontossauro comia folhas.

...Às cinco e quinze da minhã de uma quinta-feira...