Solavancos

Sabe, eu já quis atropelar tudo. Ser mais. Ser vista. Ser paz. Ser quista. Quis ser o emaranhado de flores. Sabe, aquelas bem perfeitas. Pétalas de algodão. Ser assim, sem dores. Mas imensidão. Ser forte. Para os outros. E para mim chorar às escusas, às avessas. Isso parecia dar certo. E aí eu me deixei. Ser assim, desleixada. Parei de cobrar tarifas. Parei de tentar enxugar as pétalas. Deixei enrugar mesmo, mas com classe. Elegância em primeiro lugar. E sabe, atropelei de novo. E de novo pedi desculpas. Pra mim. E agora eu não choro mais sozinha. Se é pra chorar, vamos lá, não tenho vergonha. Pobre daquele que não ri do que sonha. E eu rio às vezes. Pareço a face dos solavancos. Mas sabe, antes de atropelar, eu reflito. Se é pra ser bom, se é pra ser certo, se é pra mudar, por que não? Adoro conflito. E também decisão. E a decisão dura lapsos, milésimos de segundo. E assim eu confio no atropelo do mundo.

Andrea Sá
Enviado por Andrea Sá em 25/09/2011
Código do texto: T3239310