Alguém

Alguém que me dê um cravo ou uma rosa

para eu colocar na lapela.

Alguém que possa ser indecente

sem ser vulgar, vil ou consumível.

Alguém que não goste de ópera,

mas que seja capaz de ouvir uma ária

sem reclamar ou bocejar.

Alguém que, do azul ao amarelo,

seja capaz de respeitar o cinza.

Alguém que faça de um beijo

na ponta fria do nariz

a carícia mais pontual e afetiva.

Alguém que faça em silêncio

o soneto que Vinicius invejaria.

Alguém que maltrate o idioma,

mas aconchegue a língua-mater

Como lhe convier ou aprouver a alma.

Alguém que vá do samba ao rock

sem constrangimento algum.

Alguém que, entendendo de inflação,

seja econômica e farta a um só tempo.

Alguém que seja matéria viva

e de essência inflamável.

Alguém que, na dor a mais,

seja cabeça pensa em meu ombro

enquanto eu lhe fizesse

canções de sortilégio

a capitanearem-lhe a tristeza

ou a gravidade das coisas.

Paulo Pazz
Enviado por Paulo Pazz em 11/10/2011
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