Tète a Tète

Quero o olhar de frente, encarado, escancarado, como se fosse sempre a primeira vez.

Quero o mesmo olhar que desnuda a pele, que despe pelas palavras, que anseia, que procura, e que sabe por onde, e quando chegar.

Deixo atrás da porta as palavras ditas por dizer, as roupas dependuradas; cá dentro só a aventura de descobrir os nossos caminhos, a mansidão das poucas palavras, o sibilos dos sussurros, o ensaio dos corpos e seus desejos...

Quanta mentira dita e aceita, e quanto eco pelas paredes que recaem sobre nossas bocas espelhadas de paixão servil e submissa. Ainda assim quero sentir os cheiros todos misturados como terra revirada que exala odores de vida, por que tem as entranhas prontas e preparadas para a semeadura.

Bata a porta do lado de dentro e esqueça os trajes do cotidiano, a água morna cai sobre o tépido corpo que reveste a alma que te espera há muitas décadas. Só de perfumes e lapsos de lembranças são tecidas nossas histórias, relaxa e aceita mais uma vez a tua eleita.

Há muito mais de nós em cada volta do ponteiro, já que nos sabemos mesmo antes desse tempo que nos abriga. Há muito mais de nós nesses refúgios que só nós sabemos existir, por que antes desse tète a tète já nos sabíamos.

E só por isso quero mais hoje do que ousaria querer algum dia...

Angélica Teresa Faiz Almstadter
Enviado por Angélica Teresa Faiz Almstadter em 10/07/2005
Código do texto: T32799
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