O BEIJO DO PAPAI
              Eustórgio Wanderley


(Ontem durante um aniversário, duas irmãs me pediram
para que eu encontrasse este poema que elas haviam
lido há muitos anos atrás, eu disse que iria procurar,
encontrei-o facilmente no google, ofereço então à elas
com o meu carinho e apreço. E também envio o meu beijo)


À Ivone e Filhinha da Calèche Boutique de Franca, SP)

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O BEIJO DO PAPAI
             Eustórgio Wanderley



Conta-se que, no tempo da guerra entre a Rússia e o Japão,
certa tarde, após cessarem os bombardeios, junto à linha
de fogo surgiu uma criança perscrutando, com o olhar
curioso e indagador, como quem procura descobrir um
semblante saudoso e querido naquele triste campo
de batalhas.

Ao ver a pequena, um bravo soldado japonês que podia
dominar a língua eslavo-oriental, tomando em suas mãos
calosas as acetinadas mãozinhas da criança,
indagou com ternura:

O que deseja, minha pequena?
Está procurando algo no meio da tropa?
Quem é você? De onde vem? Qual é o seu nome?
Meu nome é Lina. Estou procurando o papai, que há
muito tempo não vejo.

Sinto tanta saudade e desejava vê-lo agora.
Que pena... O seu papai já não está mais aqui.
Ele seguiu em frente. Posso lhe dar algum recado?
Fale-me como ele é e vou procurá-lo e dar suas notícias.
Está bem?

É fácil distinguí-lo... Meu pai é alto, forte, tem olhos
azuis como os meus e um bonito rosto barbado.
Os cabelos também são loiros.

E a criança, esperançosa, tirou do bolsinho do avental
uma foto do pai, dizendo sorridente:
Dou-lhe esta foto para que o reconheça.
Ele se chama Ivan.

O soldado, comovido, colocou o retrato no bolso da
sua túnica e indagou com enorme carinho:
Bem, agora qual é o recado que vai deixar comigo para o seu papai?

Não é nenhum recado que eu quero que lhe dê... Então o que é?
Pode falar que eu prometo fazer o que pede.
Sim, eu quero que chegue juntinho dele e entregue
esse meu beijo.

Assim dizendo, a pequena pulou ao colo do soldado
e beijou-lhe o rosto umedecido pelas lágrimas e
voltou correndo por onde havia chegado.

Durante toda aquela noite foi intenso o bombardeio e num assalto a tropa japonesa conquistou o inimigo.
Os feridos começaram a ser recolhidos indistintamente.
Nisto, aquele soldado japonês viu passar, carregado, um soldado cujas feições se assemelhavam muito às da criança.
Tirou a foto do bolso e conferiu.

Não havia dúvidas. Era ele. O soldado o chama: Ivan?
O que deseja?-respondeu o russo ferido.
Trago comigo um carinhoso beijo que Lina, sua filhinha, lhe enviou.
Dizendo isto, beijou a fronte do inimigo ferido e o abraçou ternamente.

Não havia ali lugar para o ódio... Foi o que aprendeu com Lina.

ALGUÉM



Adria Comparini
Enviado por Adria Comparini em 19/10/2011
Reeditado em 17/11/2011
Código do texto: T3285491
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