de silêncios tão bons

Cai-me o absinto em meio ao fio que perpassa a garganta o dorso e é dor dentro do osso. Osso não dói, diz o doutor! O que me dói então seu sabichão? onde o que dói mói e rói o vazio do poço?

Esse gozo contido à boca da palavra desiderata explodindo a crosta a palavra engatada no nada o núcleo da goiaba no estiramento desse fio desencapado uma sarça ardendo meu corpo, a vida dançando da salsa parrilha ao merengue de morango. Eu brinco com as palavras "escravos de jó jogavam caxangá tira bota deixa"... deixa eu ficar mais um pouquinho! mas não, não deixa.

"Ciranda cirandinha vamos todos cirandar", ai que chatura essa tontura me deixa em paz. Saio da roda zonzando passos girando-me a mim em minha órbita obnubilosa.

Fico aqui - silêncio - parecendo que tô parada olhando o mar.

Ouço o pai dizer quando nada fala: seus olhos nos meus olhos, o brilho do castanho fundo do nosso pesado barro, era só isso, bastava e era bom, o nosso silêncio cúmplice com todos os apesares e asperezas.

Desenho riscos largos com as palmas das mãos na areia esparramada no chão de minha ante sala desarrumo os grãos do tempo com certa rispidez, carinho e liberdade. A cortina do palco mais uma vez se fecha tudo vai escurecendo lentamente e eu me sinto dormir.

Alessandra Espínola
Enviado por Alessandra Espínola em 21/10/2011
Reeditado em 24/10/2011
Código do texto: T3290487