LOCOMOTIVAS HUMANAS ASSIMÉTRICOS DESTINOS
Lá vão elas...
garimpando espaços, driblando crateras, superando barreiras,
lombadas e depressões;
aos ziguezagues, pelos infindos aclives do planalto central da cidade,
ora subindo augustas, ora descendo angélicas,
atravessando rios brancos, paulistas, ipirangas,
a caminho do paraíso, do bom retiro, da liberdade...
destinos íngremes, perpendiculares, equidistantes...
Lá vão elas...
arrastando passados imperfeitos, pretéritos futuros,
relíquias do presente...
indo sempre, seguindo em frente, sempre indo e vindo,
coletando brochuras, espirais, cartografias,
contornos de uma geografia antiga,
diários e segredos de mochilas adolescentes...
modelismos aéreos, terrestres, aquáticos...
fuselagens, asas, turbinas, trens de pouso...
rastros de trilhos, vagões descarrilados...
barcos sem leme, sem proa, sem mastros, à deriva...
Lá vão elas...
conduzindo GPS(s) extraviados, monitores e televisores apagados,
ventiladores emperrados, gravadores avariados,
teclados empoeirados, obsoletos,
controles descontrolados, rádios emudecidos...
antonietas decepadas,
susies e barbies mutiladas, fétidas, maltrapilhas...
Lá vão elas...
delineando figuras ao acaso,
manobras ousadas, radicais,
empírica geometria, bêbadas linhas,
hieróglifos modernos, aramaicos, parabólicos
hiatos consonantais, desencontros vocálicos....
Lá vão elas...
dando duro, dando tudo,
pisando firme, deslocando peso,
fazendo caras, fazendo bocas,
vertendo suor, contrariando as leis da Física, os limites do físico,
descobrindo atalhos nos esconderijos do corpo,
cadenciando, com paciência de pés, troncos e pernas,
os mecânicos desvarios da metrópole no limiar do século XXI...
Lá vão elas...
incansáveis, obstinadas, patriotas,
amazonas do asfalto, senhoras sem anéis,
argonautas urbanos
assimétricos destinos, locomotivas humanas...
joões, marias e josés...
Janeiro de 2008.
Texto de Zizifraga.