Pelos furos da cortina

Eu sei que às vezes acordo sem vontade de levantar. E levanto assim, meio ingrata. Não agradeço o sol. Nem tampouco as estrelas da noite passada. Mesmo assim, Você me faz acordar no dia seguinte. Para quê? Para eu novamente levantar ingrata. E correr o dia sonâmbula. E dormir à noite sem dar importância a lua que Você faz, insistentemente, penetrar pelo meu quarto. E quando eu estou quase desistindo de tudo, frustrada pelas derrotas, sem perspectivas, Você me faz cruzar o caminho de velhos amigos. Eles falam coisas sensatas no meu momento de insensatez. E aí eu vejo aquele livro na vitrine. Resolvo comprá-lo. Uns chamam de auto-ajuda. Outros de balela. Para mim é uma tabula de salvação. E o livro fala de tudo o que já tenho, e não muito freqüentemente me dou conta. E de novo, através de mim mesma, Você me faz voltar. Voltar para o Seu lado, Seu aconchego, Sua morada. E até aquele mísero raio de sol que tenta, angustiado, penetrar pelos furos da cortina, me lembra Você. E eu me ponho nos trilhos novamente, encontro um novo Caminho, uma nova Verdade. Uma nova Vida. E se hoje falo bem, falo certo, com a voz firme e decidida, é por que alguma coisa Você fez brotar em mim. Talvez um sopro de esperança, um lampejo de alegria, ou a tão querida felicidade. Talvez amanhã eu acorde ingrata. Mas não quero isso. Então, para que Você opere o mundo em favor do meu retorno, eu deixo uma dica: amanhã me dê uma nova tristeza, uma nova dor. Mas me dê também um exemplo de um irmão sofredor. A minha compaixão há de aguçar. E eu novamente, do seu amor, hei de lembrar...

Andrea Sá
Enviado por Andrea Sá em 29/10/2011
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