imagem/desenho
Lilianreinhardt
                 (Memoriais de Sofia Zocha)

         O que queria dela aquela  sombra? Amarrou uma mistura de tons na paleta e golpeou forte  na tela algumas pinceladas  em terras  para desfossilizar as cores. Segurava a carícia dos tons  ao colo, eles lhe tocavam os olhos, acariciavam-lhe a nuca ...entre  as linhas,  perpendiculares e as espirais  ariscas    que se perdiam  no desfiar das ovelhas do vento, lanuras  do rocio vazado, sob o  negro plano... Talvez a cidade estivesse incendiando,  e sobre os esqueletos do carvão das árvores agora só os pássaros empoleirados, talvez ela estivesse caminhando  ofegante e andando encurvada naquele imenso corredor de hospital, palmo a palmo, os chinelos arrastando-se, respirando com dificuldade. Um balão de oxigênio no vasto céu de azul acinzentado do teto do quarto e as manchas se misturavam com  outros balões pela janela vesga de luz  e a criançada gritaria varando cercas e quintais ou talvez pudesse ouvir-se os passos compassados de uma jovem freira vestida de branco com uma bandeja de sedativos na mão, com passos de bailarina construindo a alegoria da boa amanhã para a nauseabunda cidade contaminada:- Bom dia boa menina! Está na hora do remedinho! E ela urraria de dor com o prazer do cio das horas    daquele coito de sedativos, de culturas envenenadas...