Depois Almitra pediu: Queríamos que falasses agora da Morte.
 
E ele respondeu:
Vós conheceis o segredo da morte.
 
Mas como o encontrareis a menos que o procureis no âmago do coração?
 
O mocho cujos olhos noturnos são cegos para a claridade, não pode desvendar o mistério da luz.
 
Se quereis verdadeiramente conhecer o espírito da morte, abri o vosso coração até ao corpo da vida.
 
Pois vida e morte são uma só, tal como o são o rio e o mar.
 
Na profundeza dos vossos desejos e esperanças está a consciência silenciosa do além; e tal como as sementes que sonham sob a neve, também o vosso coração sonha com o desabrochar.
 
Confiai nos sonhos, pois neles está a porta para a eternidade.
 
O vosso medo da morte não é mais do que o temor do pastor quando se vê perante o rei que ergue a sua mão para o honrar.
 
E sob a sua tremura, não está feliz o pastor, por trazer em si a insígnia do rei?
 
E, no entanto, não está mais consciente do seu tremor?
 
Pois o que é morrer senão ficar nu ao vento e fundir-se com o sol?
 
E o que é deixar de respirar senão libertar a respiração das suas inquietações a fim de ela poder elevar-se e expandir-se até Deus?
 
Só quando beberdes do rio do silêncio sereis capazes de cantar.
 
E quando chegardes ao cimo da montanha, podereis então começar a subir.
 
E quando a terra reclamar o vosso corpo, então sereis verdadeiramente capazes de dançar.

 
  
                                          &A&
 
Do livro  “O Profeta”  (sem indicação de tradutor)
 
Créditos:
http://www.clube-positivo.com/biblioteca/pdf/profeta.pdf




Khalil Gibran (República do Líbano)
Enviado por Helena Carolina de Souza em 09/11/2011
Código do texto: T3326928