Cruzivaldo Bento

Cruzivaldo Bento. Idade avançada,muito avarento.Seu tesouro guardado a sete chaves.Ou melhor, dentro de colchões de palha. O homem deitava seu corpo cansado no colchão velho e amaranhado, deleitando-se com euforia, em cima de toda grana adquirida no decorrer do seu dia a dia.

Uma vida inteira a trabalhar.Família não quis constituir. Naturalmente para não dividir o que por direito era seu. Só seu! fruto do seu trabalho suado que, com suas mãos calejadas, constituíra sem que jamais aparecesse alguém para ajudá-lo a fazer.

Amigos não possuía. Tinha medo que alguém fosse à sua casa e pudesse descobrir a fortuna que escondia.

Certa noite, percebeu que os colchões estavam quase a estourar. Então, pensou:

_ Acho que este dinheiro vou ter que contar. Já até perdi a conta... E se alguém vier me roubar ?

Começou pelo colchão do cruzeiro. Ao abri-lo ficou espantado.

"_ Meu Deus, quanto dinheiro !"

Com o corpo cansado, quase cego, pensou estar vendo bolinhas demais em cada nota que pegava. Abriu o colchão do cruzeiro velho. Seus olhos estavam mais amaranhados. Coçou a vista e gritou:

_ Deus do céu ! Agora é o cruzeiro velho, cruzeiro novo e ainda tem o cruzado. Acho que num banco terei que depositar . creio que eles me ajudarão a contar. Entendendo assim, essas bolinhas a mais, bolinhas a menos que as minhas vistas andam vendo.

Cruzivaldo Bento não dormiu aquela noite. Pensava alto:

_ Eu sou o Cruzivaldo Bento. O homem mais rico da região. Rico e inteligente. No meu colchão não tem palha, é só dinheiro.

E, ao amanhecer o novo dia, Cruzivaldo, radiante de alegria, arreou o seu velho burro com a canga e nesta colocou dois baús abarrotados com dinheiro.

Lá se foi rumo à cidade. E o velho burro mal podia andar de tanto peso a carregar.

_Creio que o burro está cansado, se eu quiser chegar ligeiro, o seu lugar terei que tomar. Não custa nada dar uma mãozinha, afinal, a fortuna é toda minha.

Enfim,chegou à cidade. Estacionou o burro na calçada da agência bancária.De fora do banco começou a gritar:

_Senhor gerente, por favor, mande alguém me ajudar ! Hoje encherei este banco de dinheiro. Vocês verão quanto consegui guardar por uma vida inteira de trabalho. tenho aqui o Cruzeiro velho, o cruzeiro novo, o cruzado e um pouquinho de real. Acho que agora, já posso descansar.

Muito educado, o gerente chamou Cruzivaldo para conversar.

_Sr. Cruzivaldo, ai meu Deus como lamento lhe dar esta triste notícia que muito o vai magoar.O cruzeiro, o cruzeiro velho, o cruzeiro novo e o cruzado já não vale mais nada, agora só vale o real de todo o dinheiro que guardou, somente esse real lhe sobrou, o resto só serve para encher o colchão.

_ Mas como ?_ disse o velho Cruzivaldo_ Passei a vida inteira a trabalhar, nem mulher e filhos quis arranjar.Amigos sr gerente, não tive tempo de arrumar. Também, eu tinha tanto medo de arranjar um amigo safado e todo o meu dinheiro ele roubar.

Triste, cabisbaixo, voltou para casa levando todo seu dinheiro que não valia mais nada. Restando-lhe apenas uma solução : depositar o dinheiro velho, adormecido, de volta no colchão .

Chegando em sua casa, o pobre do Cruzivaldo despejou todo o dinheiro guardado, cruzeiro, cruzeiro velho, cruzeiro novo e cruzado, formando um amaranhado, enchendo novamente os colchões.Só queria descansar seu corpo velho, coração a palpitar. Sentiu um nó na garganta, sentiu seu peito apertar e , ao deitar-se no dinheiro, percebeu no seu corpo o gelo da morte, que o chamava para morar em outro lugar, seu corpo desfalecido somente encontrou um velho amigo, o velho burro sozinho a lhe velar.

Autora: Maria Lamanna

Rio Preto-MG

Obra inserida no livro " Meu Amor é Você". Antologia Literária.

Pela Litteris Editora, Rio de Janeiro.

Participação em concurso.

Maria Lamanna
Enviado por Maria Lamanna em 12/11/2011
Reeditado em 22/10/2016
Código do texto: T3331100
Classificação de conteúdo: seguro