Acerto

Não vem fingir que no meio dessas contas tu tá perdido.

Não vem dizer que tu não sabe o quanto somou o peso dos teus sumiços.

Tô sabendo muito bem que enquanto eu tava na rua pro sustento dos condenados que puseste no mundo, tu te enrolava nas calcinhas da vizinha. E te lambusava naquela baba toda; chegava a noite tu te deitava do meu lado cheirando a galinha.

Eu não falava nada, eu não jogava nada, nem nada em cima de tu, nem tu pra fora da cama.

Mas eu morria de nojo.

Nojo dessa tua barba velha e mal cheirosa.

Desse teu furo no queixo de onde sai um pelo tão preto.

Dos longos cabelos desbotados presos nos pelos do teu peito.

Depois acordava no furor, todo animado, todo feliz, todo pra cima.

Mas não finge que a juventude era pra mim que eu sei que não era.

Eu sei que tu só ficava assim quando sonhava no meio das pernas da vagabunda.

Não vem fingir que as contas não batem.

Nem dizer que tu discorda um fio que seja.

Sempre deu uma de malandro enquanto eu ralava o preço do suor do meu corpo.

Agora fica aí, cara de froxo, pica mole.

E vê se pára de babar que eu não boto o dedo nesse queixo encardido.

Achou que o marido era besta, besta é tu animal.

Que não me viu armar tua coça.

Contar pro marido daquela azeda foi só o começo desse acerto.

E bota aí na tua conta que te deixar no teu estado merecido me custou abrir as pernas na marra.

Mas não te preocupa não que eu ainda abro as tuas.

Agora te vira que eu tô indo pro enterro da vadia.