Se já fui uma pessoa inteira não sei, sei que estou fragmentada agora.
Eu me vejo comprando sandálias para meus pés amputados, encomendando pulseiras para meus pulsos dilacerados e anéis para dedos que perdi.
Fico na expectativa de buscar meu coração deixado sob tantos cuidados, mas como se deixa um órgão vital assim, fora do peito? Não sei.
Sei que o membro que me falta dói e reclama o tempo todo, então fujo para dentro de mim, onde há um lugar que não sabe verdades; é nele que sobrevivo sem entendimentos por não haver perguntas.
Eu não quero a realidade e não quero fazer parte dela com uma resignação que não tenho e nem estou buscando encontrar.
Não concebo uma verdade que me foi imposta por desconhecidos e inesperados fatos.
Ainda sou uma amante da verdade, não é dela que estou me escondendo; estou fugindo da minha deficiência que insiste em ser eficiente em sua presença.
Não há nenhum recomeço neste ponto, apenas uma aceitação passiva do que virá, virá, virá...