ENTARDECER ENFEITIÇADO


O sol adormece na vidraça, tinge de louro as paredes,
e espalha um sono leve além dos limites de inverno,
fruto de seus raios, pelo chão, de encontro ao odor dos corpos,
eclipsando suaves tons lilases, capazes de fazer entardecer.

Os espelhos, assustados como loucos, brilham em olhos de sábio
que vêem nos caminhos arborizados os sentidos das palavras dos poetas,
e enxergam o fundo de um lago cristalino, nesses olhares mesmo
a refletirem o azul de um céu ardente de paixão,
a queimar como perfume.

Mas é já no escurecer, que do sombrio do tempo a chuva aparece,
trazida por rajadas crispadas que zombando
invadem o espelho d´água da janela
e a sua imagem, manchando-no de opaco.

E nas almofadas distorcidas excitam-se os movimentos
a rolar de galopes açoitados noite afora,
inflamados defronte ao inconsciente crepitar do fogo
entre as nuvens pensativas do feitiço!
Miguel Eduardo Gonçalves
Enviado por Miguel Eduardo Gonçalves em 04/01/2007
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