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TRECHINHO DE LIVRO


qUANDO A OCASIÃO FAVORECE, (D)ESCREVE-SE DETERMINADOS EPISÓDIOS EM PROSA POÉTICA. ESTE É UM TRECHINHO DO SEGUNDO VOLUME DE - A PONTE DO PRECIPÍCIO - MEU TERCEIRO ROMANCE QUE ESTOU ESCREVENDO.

TRECHINHO DE LIVRO.

"Mas tudo isso lhes custara um bom dinheiro e os fizera reféns de hábitos outros, que tencionavam adotar quando de volta à sua terra natal. Isso tudo, também, desenvolvera outros sentidos em seu ego e seu espírito. Cada lugar visitado prendera sua atenção quanto aos costumes, hábitos, alma e sentimentos daquele povo africano, que, confessavam para si mesmos, de início lhes causara certo receio. Talvez, motivado, até, pelos relatos preliminares sobre a constância das guerras em países africanos; quiçá, pelo desconhecido que enfrentariam, sendo eles pessoas simples, que até pouco tempo atrás, poderiam imaginar que o mundo todo resumia-se ao Rio de Janeiro, pois era a única terra de que tinham notícia exata. E nesse vai e vem de pensamentos que apanhavam no ar com os voejares da mente, que, comodamente recostados em suas poltronas, adormeceram placidamente, devido ao cansaço dos preparativos.
– Olha, que lindo, Miraldo!
Miraldo acabava de acordar de um sono que o levara, em sonhos, a ver girafas e zebras nas savanas da África.
Quando a tropa de zebras debandou indisciplinadamente do seu raio de visão onírica, assustando girafas e antílopes que, como por encanto, sumiram nas brumas do seu olhar ainda confuso que, neste momento, abria-se para o mundo real, o homem ouviu a voz da sua companheira de vida e de voo. Miraldo esfregou os olhos, disse um “bom dia” ainda sonolento à esposa e passou a olhar o cenário privilegiado que lhes proporcionava a altitude da aeronave. Viu, sobre o pano de fundo de um azul clarinho movediço, perolado de sol, mais parecendo miúdas pepitas de ouro saltitantes, o sublime espetáculo da metade de uma enorme gema de ovo com hastes de luz, emergindo do seu ninho de mar. Nada soube dizer e nem ouviu nada mais. Seu olhar maravilhado fotografou todo esse espetáculo e o arquivou na sala da mente destinada a guardar em suas paredes as supremas obras de arte da natureza.
Aos poucos e lentamente, o sol alçou seu voo sem asas, do horizonte do oceano rumo ao espaço infinito.
Como que hipnotizados ainda pelo espetáculo do nascimento do dia, viram o fundo líquido tornar-se sólido e povoado de verde e cinza. E esse sólido significava terra. Não sabiam onde estavam, que continente ou que país sobrevoavam, mas isso em nada contribuiu para que sua conversação fosse mais ou menos animada e interessante".



Afonso Martini
Enviado por Afonso Martini em 30/11/2011
Reeditado em 30/11/2011
Código do texto: T3364801
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