Carência noturna

Todas as noites a solidão vem me fazer uma breve visita, ela é tão impiedosa que chega só para me punir. E ela nunca vem sozinha, algumas vezes traz umas músicas melosas, essas que me dão vontade de enfiar o dedo na garganta brutalmente só para vomitá-las, isso é um veneno para meu organismo que reage de uma forma tão patética, que o vômito é instantâneo. E a melodia vai invadindo o meu ser e me recordando do quão inútil sou — como se eu já não soubesse disso. Eu sou inútil porque não consigo ser feliz sozinha, porque preciso que me dêem carinho, amor e atenção, eu não sou completa sem essas “porcarias” que todos dizem ser necessárias na vida. E Caio Fernando de Abreu vem com essa frase mais que ultrapassada tentar me consolar: “É tolo chafurdar em pântanos de depressão com pouco mais de 20 anos, você não acha?” Não acho nada, eu nem sei por que ainda te dou ouvidos, Caio, sempre ele! Já são pouco mais que meia noite e eu continuo aqui, tentando dar razão por esse vazio em meu coração, eu nem preciso tentar fingir, meu coração está chorando de saudades de você. Não queria mesmo precisar de alguém tão urgentemente, mas eu preciso de você ao meu lado! Às vezes sinto como se você estivesse aqui ao meu lado, me olhando a escrever e eu fico ouvindo apenas sua respiração mansa que aquece meus ouvidos, e pausadamente o sono vai tomando posse de mim e mesmo em sonho consigo sentir sua presença incansável ao meu lado, lá fora a noite desfalecida, um rio gélido onde a bruma se forma. Lá fora almas em ócio aguardando em sonho a chegada de mais dia árduo que vem se aproximando. Não sei se é sonho, mas vejo você vindo até mim, me dá um beijo e diz:

— Dorme menina... Dorme que de onde estou posso vigiar teus sonhos.

Madonna Cardoso
Enviado por Madonna Cardoso em 29/12/2011
Código do texto: T3412492