Monalisa do Sertão
Ciça Alves da Cunha

 

Estou buscando.
Há uma urgência em mim agora.
Uma necessidade de encontrar um canto escondido de mim ou um descampado onde qualquer um possa ir.
Preciso ficar livre disto. Dar a quem quiser carregar o que não quero, o que em mim não cabe, aquilo que em mim não cai bem.
Estou procurando como se fosse uma condenada à escuridão. Estou buscando por movimentos táteis, tentando encontrar algo palpável, concreto e fazer de tal coisa algo digerível para que minha agonia se acalme e o insuportável seja minha mais recente propriedade.
Preciso deste local desconhecido onde por alquimia transmute este desespero que esquarteja todos os meus amanhãs, que ainda nem sei deles, mas os quero de forma selvagem.
Estou buscando uma coisa desconhecida e assustadoramente é nela que depositei minha esperança de ser menos daquilo que estou agora, porque o que estou agora é de todo intocável por mim, todo sem gosto e sem forma e não sei mais lidar com nenhuma desestrutura.
Quero contar com a certeza descabida de algo que possa beber aos goles, sem me afogar num abismo inesperado de uma garrafa que me está arrolhada e tenho um sentimento medonho quanto ao momento de abri-la.
Estou procurando não ser-me tolerável, mas suportável para ti, que por incômodos desta coisa arruinada que fizemos da vida, ter ao menos uma chance de guardar-me para um depois de incertezas.
E tudo é seco como um sertão árido e inabitado. Este eu inóspito terá que ser transmutado em um ser, num lugar hospitaleiro, um eu habitável por ti, meu amor.
É preciso amar as pessoas já, o amanhã é uma quimera e sempre será. Então te amo hoje, já, agora para que dê tempo e me ame assim, pois é o único tempo existente e real.
Ama-me com urgência, porque o ontem já passou e não fui amada até o esgotamento por ti.
Ama-me cruelmente, com o seco e árido sertão do teu coração abandonado.

Estou buscando...