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À meiga e talentosa educadora de infantes

ROSECLER PANDOLFO

Projetoprovecto,

objeto não identificado,

um feto mergulhado no cérebro do acelerado em busca da verdade genuína.

Frustrações da existência

e a visão identifica os celerados.

Entretantos,

no ritmo veloz do crânio que tomba

sobre miríades de estradas das letras que cortam as páginas dos livros,

ei-lo, aflito:

os olhos em busca do método...

Salvação, missão, um desvio do olhar!

A trilha embriagante da verdade do mundo lhe é revelada.

Os pés, as pernas, os braços e as mãos raladas baloiçam o véu de Maya.

Raia, verdade dolorida!

Raia, mentira lancinante!

Em meio aos antigos de Piratininga,

avança a saga dos Piratas do Tietê.

Franciscanos e Beneditinos

louvam a Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos

ao longo do caminho curto, do caminho do tatu, tudo a pé,

logo ali, no aldeamento dos Guarús,

ergue-se na imensa pedra dormente

A Penha de França!

Pena dos infantes,

tão distantes de felicidades.

Infantes, adiante!

Marchem sobre Sampa

e rompam com o rompante dos adultos tristes.

Ocupem o Topo do Aricanduva!

Lá tem sabiá cantor, ele canta nas palmeiras

da tribo dos Guaianases.

Brincar, cantar, nadar, mergulhar no ribeirão dos índios!

Infantes, adiante!

Ocupem o Topo do Aricanduva!

Destruam o mundo esquisito e triste dos adultos.

E os guris e as gurias,

em estripulia,

rolam os passados penhascos verdejantes

do presente viajante-instante-fugaz-cintilante

de um passado inacabado.

E dos penhascos da Penha meus pensamentos pendem;

eles acenam, dependurados, para a nuvem baixa,

para Cumbica,

além Marginal Tietê, Rodovia Ayrton Senna...

A senha!

126!

Ocupem a Penha, crianças!

O insight, a ideia, as ideias, os ideais educacionais em rebelião,

cenários de dramatizações,

chão de alfabetização para a escrita de tantas histórias-guarús,

histórias das erosões, das horas fatais da natureza primordial,

realizações em meio ao ruído,

do apito maldito e cordial e matinal do trem da CMTU.

Caramuru, Ipiranga, Tucuruví piuí, piuí, piuí...

São crianças chegando ao mundo,

maravilhadas com as coisas que estão descobrindo,

objetos ainda não identificados,

os sem projetos trepam como índios, aos montes, as montanhas da Serra da Cantareira;

dos concretos estendidos e dependurados,

em meios aos lençóis sujos do contemporâneo,

eles acenam,

rogam,

rugem!

O rebanho de infantes

é um mirante de sementeiras da inocência,

eis a guerra dos meninos!

Coroados de plumas,

as armas são as verdes palmeiras dos cainguás colhidas nas colinas caraguatatuba- tupinambá.

À sombra dos renascidos pinheirais,

banhados pela umidade no ar,

eles passam a limpo,

acariciando com as folhas das palmeiras,

as águas do Tietê,

e entoam um hino de luz:

“_ Guaianás, caingangues, itaquera, guarú, ururaí, guarulhos... ‘tudo vai, tudo volta, roda eternamente a roda do ser, tudo morre e volta a florir... a existência recomeça em todos os instantes’”.

Mitologia dos Guaianazes ...

Resgate dos signos em rotação,

aprendizado de um passado não definitivamente perdido,

realfabetizar em idioma tupi-guarani!

ete... verdadeira;

ty... água;

...

tyete precipitação do tempo passado,

precipitação de memórias enganadas e injustiçadas às vésperas da morte.

Prof. Dr. Sílvio Medeiros

Campinas, é verão de 2012.