Virgulina Sonhadora

A Virgulina sonhadora se encanta com os apanhadores de girassóis

No vértice do planalto central

E se debruça sobre a ponte que deságua aventureira nesse Rio

Rio de Janeiro imergido na violência e caos da guerra de classes

Nos classificados se espanta com a falta de ensejo

Virgulina sonhadora inicia desespero

Quando antevê um assalto em pleno movimento; à céu aberto

Luz do dia da cidade

Sertaneja como ela só, tenta só, em vão, voltar ao ponto de origem

Desse ponto só se vê partida

Milhares todos os dias: virgulinas sonhadoras deixando rodoviária e família pra trás

Dobra a ponta do cerrado e se parte sem deixar rastro

Se assusta com todo sofrimento

Que agora é recompensado com tiros a esmo

Pessoas sobem o morro como numa procissão

Se protegem do jeito que dá

Outras, Refugiadas em fortalezas de muros cada dia mais altos e belos

fingem-se livres e protegidas, apenas observando a vista que as observam

Enquanto isso, Virgulina, solitária, carrega a cruz que outrora foi mais leve

Caminha até o reduto dos artistas

Nesse lugar todos se divertem, a despeito de toda desordem que os remove

Bebem poesia, bebem e bebem

E se embriagam até o êxtase das possibilidades artísticas subversivas

E Virgulina, orgiástica, tal como uma arte plástica,

Esquece que nem tudo é tão duro e cruel

E morre feliz nos braços do poeta faxineiro da Lapa

Bruno Cabelo
Enviado por Bruno Cabelo em 10/01/2007
Reeditado em 10/01/2007
Código do texto: T342581