Virgulina Sonhadora
A Virgulina sonhadora se encanta com os apanhadores de girassóis
No vértice do planalto central
E se debruça sobre a ponte que deságua aventureira nesse Rio
Rio de Janeiro imergido na violência e caos da guerra de classes
Nos classificados se espanta com a falta de ensejo
Virgulina sonhadora inicia desespero
Quando antevê um assalto em pleno movimento; à céu aberto
Luz do dia da cidade
Sertaneja como ela só, tenta só, em vão, voltar ao ponto de origem
Desse ponto só se vê partida
Milhares todos os dias: virgulinas sonhadoras deixando rodoviária e família pra trás
Dobra a ponta do cerrado e se parte sem deixar rastro
Se assusta com todo sofrimento
Que agora é recompensado com tiros a esmo
Pessoas sobem o morro como numa procissão
Se protegem do jeito que dá
Outras, Refugiadas em fortalezas de muros cada dia mais altos e belos
fingem-se livres e protegidas, apenas observando a vista que as observam
Enquanto isso, Virgulina, solitária, carrega a cruz que outrora foi mais leve
Caminha até o reduto dos artistas
Nesse lugar todos se divertem, a despeito de toda desordem que os remove
Bebem poesia, bebem e bebem
E se embriagam até o êxtase das possibilidades artísticas subversivas
E Virgulina, orgiástica, tal como uma arte plástica,
Esquece que nem tudo é tão duro e cruel
E morre feliz nos braços do poeta faxineiro da Lapa