LE QUARTOUR CALIENTE

O pátio enorme como se necessário fosse um andar maior para se chegar à nave. A luz mediana faz aumentar o clima de expectativa. Nos bancos da igreja centenária de teto rebuscado, figuras sacras se amontoam num misturar perfeito. Corpos, braços, pernas, vestes opulentas, se fundem e confundem os presentes. Um silêncio quase mortal une todos num prenúncio do que virá. No altar,um piano de cauda, um violoncelo, um violino e um bandoneon sugerem sons.

Uma breve apresentação os anuncia: Le quartour caliente. Logo quatro jovens de negro entram cada um assumindo um dos instrumentos expostos. O dedilhar do músico do bandoneon é nervoso. A cada som tirado, um êxtase. São notas que doem tamanha a perfeição. Sua perna apoiada numa cadeira serve de descanso para o bandoneon que vai e volta, abre e fecha num bailado sensual. O violinista entra no instrumento e faz dele uma asa pregada no ombro numa cumplicidade perfeita. O derriar de seu rosto sugere um beijo permanente. O instrumento prolongação do corpo do músico. O violoncelista não fica longe desse espetáculo. Seu abraço é terno, por vezes ríspido, dependendo das nuances da música. Um piano majestoso completa a cena.

O momento é celestial. Desejo de estancá-lo, eternizá-lo. Desejo de guardá-lo. Logo lágrimas escorrem pelo meu rosto e eu não as impeço de lavar minha alma em festa.

E as músicas acontecem...Astor Piazola renasce no altar/palco da igreja São Francisco para deleite de uma platéia seleta que prestigiou os quatro jovens franceses que viajam mundo à fora levando o tango aos quatro ventos.

Que possam caminhar muito e muito. Que possam encantar outras plagas, outras gentes. Que mostrem que música verdadeira inebria, sublima e que basta saber ouvir e sentir que a boa música é a que entranha n'alma e nos faz chorar.

Obrigada e parabens ao LE QUARTOUR CALIENTE.