Apelo

Falem, irmãos, das coisas que ouviram cantarem sobre mim. Falem da minha solidão. Falem do fogo em que fui cremado.

Falem, irmãos, da incerteza que é a realidade, da maldição que é o sonho e da transitoriedade desse delírio que somos nós.

Falem dessa canção, que cantei, rimando enlutado.

Falem, irmãos, do meu eu sinistro, dos meus sonhos destrutivos, dos meus anseios por sangue. Falem da minha destruição, que me proporcionei, vivendo do passado.

Falem, irmãos, da minha cobiça, da minha ganância, da minha humanidade e de suas conseqüencias.

Falem da maldição que me conduziu a tais versos, que é a ruína dos nossos, a ruína dos voadores, dos nefelibatas, dos poetas.

Falem, irmãos, a todos então, para que mais nenhum um tolo trilhe a minha trilha.